Tratamento medicamentoso e não medicamentoso de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial
DOI:
https://doi.org/10.15448/1980-6108.2017.4.28277Palavras-chave:
serviços de saúde mental, transtornos mentais, uso de medicamentos.Resumo
OBJETIVOS: Verificar o perfil de tratamento medicamentoso e não medicamentoso de usuários assistidos em um Centro de Atenção Psicossocial.
MÉTODOS: Estudo epidemiológico com delineamento transversal, realizado em um Centro de Atenção Psicossocial de um município do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Foram incluídos todos os usuários assistidos no Centro, com idade superior a 18 anos, de ambos os gêneros. Foram excluídos aqueles com falta de informações sobre o tratamento. A coleta de dados foi realizada pelo acesso direto aos prontuários quanto às características sociodemográficas, informações relacionadas ao diagnóstico, internações hospitalares anteriores, tratamento medicamentoso e não medicamentoso. A análise dos dados foi realizada por meio do teste Qui-quadrado de Pearson e o nível de significância considerado foi p<0,05.
RESULTADOS: Foram incluídos 448 pacientes, cuja média de idade foi 48,25±12,44 anos, sendo que 293 (65,4%) eram do gênero feminino, 266 (59,2%) viviam sem companheiro e 206 (46,0%) tinham ensino fundamental incompleto. Todos os usuários realizavam tratamento não medicamentoso e 445 (99,3%) faziam também uso de medicamentos. Entre as classes de medicamentos utilizados houve predomínio de antipsicóticos (78,3%) e dos antidepressivos (71,2%). O uso de quatro ou mais medicamentos foi associado à internação hospital anterior e ao uso de antipsicóticos, antidepressivos, antiepiléticos e ansiolíticos.
CONCLUSÕES: Constatou-se um perfil sociodemográfico semelhante ao de usuários de Centros de Atenção Psicossocial em diferentes regiões brasileiras. A totalidade dos pacientes recebia tratamento não medicamentoso e quase a totalidade utilizava também medicamentos. Diante do elevado número de medicamentos e internações hospitalares anteriores identificadas emerge a necessidade de ampliação do escopo de terapêuticas não medicamentosas no tratamento de transtornos mentais, a fim de promover a integralidade e a resolubilidade do cuidado em saúde mental.
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